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sábado, 9 de junho de 2018

Avalanche

Sequei minhas lágrimas à força e elas se rebelaram, doeram e arderam enquanto puderam, lutando para descer pelo meu rosto. Mas eram tantas. O que eu poderia fazer? Tive medo que elas permanecessem rolando e rolando pela minha face desmoronada. E o que seria de mim, então? Se em meu rosto tudo o que vissem fosse desespero, desesperança, desalento? Ninguém confia em ruínas, ninguém vê tamanha descompostura e permanece na beira do precipício, esperando para ser tragado. Não. Eu tive que pará-las, por mais que doa esse interrompimento. Eu não poderia deixar que durasse pra sempre, na superfície. E a plenas vistas! Não. Eu peguei minhas lágrimas e as sufoquei até que não houvesse resistência. Outra hora elas voltam, nessa profusão desesperada. Mas outra hora. Agora, meu rosto limpo e seco deve permanecer comportado e resistente o quanto puder, pois outra hora eu me deixo desmoronar, mas só um pouquinho. Porque por completo é feio, ninguém perdoa.

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